Autora: Sabrina Andrade Silva
Segundo o grego Tales de Mileto “A coisa de maior extensão no mundo é o universo, a mais rápida é o pensamento, a mais sábia é o tempo e mais cara e agradável é realizar a vontade de Deus”, essa afirmativa nos permite refletir, hodiernamente, sobre o surgimento do pensamento científico, visto que os pré-socráticos foram os primeiros indivíduos a tentar explicar o mundo de forma racional.
Apesar da imensidão do universo eles acreditavam em um único princípio original. Sendo assim, o arché para Tales era a água, porém do ponto de vista do homem contemporâneo essa percepção pode parecer simplista, todavia tal anacromia configura-se como prejudicial para o entendimento do contexto do século VII ao V a.C. Dado que, os filósofos da natureza tiveram um avanço considerável, desprendendo-se da cosmogonia e aderindo a cosmologia, ou seja, eles pararam de se basear nas mitologias gregas para elucidar o surgimento do cosmos.
Na antiguidade tiveram outros filósofos importantes que assentiam com a ideia do arché, como os discípulos de Tales: Anaxímenes e Anaximandro, sendo o ar e o ápeiron o princípio original para eles, respectivamente. Além disso, Leucipo de Mileto e Demócrito de Abdera foram impreteríveis para o estudo da matéria, já que eles supuseram que essa substância é constituída por átomos e vácuo, algo comprovado cientificamente 2200 anos depois, por Dalton. Esses sujeitos inspiraram diversos filósofos séculos depois, como Friedrich Nietzsche um notável materialista.

O período clássico da filosofia tem como um de seus pensadores Sócrates, sendo a seguinte frase um resumo da sua busca pela alethéia: “Eu não posso ensinar nada a ninguém, eu só posso fazê-lo pensar”. Tendo em vista o método socrático, que consistia em chamar um sofista para conversar e fazer algumas indagações até ele perceber a própria ignorância, ocorrendo, portanto, a maiêutica. Os teóricos da fase antropológica, diferentemente dos pensadores do primeiro período da filosofia antiga, tinha por objeto principal de investigação as questões humanas, como a ética, a política e a maneira em que fundamentava-se o conhecimento.
É imprescindível salientar que Platão, um dos alunos de Sócrates, foi o primeiro teórico idealista. Para ele existe duas formas de adquirir sapiência: a partir do mundo das ideias ou através do mundo sensível. Sendo o primeiro o saber científico e o único onde está a verdade; já a segunda maneira tem grande chance de ser enganosa, configurando-se somente como uma doxa, porquanto é obtida por intermédio dos sentidos. E para tentar explicar a condição dos seres humanos que estão alheios ao pensamento crítico, seja por falta de interesse ou oportunidades, ele fez a alegoria da caverna. Esse mito afirma que as sombras do mundo sensível necessitam de ser sobrepujadas pela luz da verdade universal e da razão.
Em contrapartida, um dos grandes discípulos de Platão, Aristóteles não era dualista, acreditando que o conhecimento é fruto da junção do sensível (sentidos) com o inteligível (razão). Ademais, relativo à essência do ser humano ele cria numa mesclagem das ideias de Parmênides e Heráclito, ou seja, consoante Aristóteles há um âmago, entretanto ele passa por transformações.

Em oposição aos pensamentos supracitados, tem-se como preeminente o materialismo, sendo as ideias originárias dos filósofos pré-socráticos: Demócrito, Leucipo, Epicuro, Lucrécio e os estoicos. Todavia, tais concepções só culminaram no século XIX com Karl Marx, Friedrich Engels e Friedrich Nietzsche. Desse modo, os materialistas acreditam que não há nada fora da natureza que possa ser apreendido pelos sentidos, por conseguinte, não há Deus nem ideais. Além do mais, segundo os marxistas, o materialismo histórico designa que o conjunto da vida em sociedade, tanto em relação a espiritualidade quanto a política, é estabelecido pela forma de produção da vida material. É notório no capítulo III da obra “Do Socialismo Utópico ao Socialismo Científico”, que Friedrich Engels parte da mesma ideia de Marx, ele afirma: “A concepção materialista da história parte da tese de que a produção, e com ela a troca dos produtos, é a base de toda a ordem social; de que em todas as sociedades que desfilam pela história, a distribuição dos produtos, e juntamente com ela a divisão social dos homens em classes ou camadas, é determinada pelo que a sociedade produz e como produz e pelo modo de trocar os seus produtos.”
Nietzsche, trabalhava mais com conceitos apolíneos e dionisíacos, sendo Apolo o deus grego da lucidez, harmonia e ordem, enquanto Dionísio seria o deus da embriaguez, exuberância e desordem. No livro “O anticristo” publicado em 1895 ele profere diversas atrocidades relativo à moral cristã, que para ele é um produto do ressentimento, no sentido de ser manifestação do ódio contra os valores da casta superior aristocrática, inacessíveis aos pessoas inferiores. Para ele o cristianismo é a decadência da humanidade, visto que ele toma partido de tudo que é fraco. De fato, de acordo com a agência Fides a Igreja Católica é a instituição que mais faz obra de caridade no mundo, ajudando pobres e doentes. E consoante o filósofo em questão, as virtudes cristãs, como a compaixão que é contra a lei da seleção natural, atua preservando aquilo que está preparado para a decadência; o perdão configura-se como incapacidade de vingança, pelo fato do cristão ser fraco e inapto para vingar-se acaba perdoando; a crença no juízo e na condenação ao inferno representa a não existência de um perdão efetivo por parte do cristão.

Nietzsche estudava teologia, entretanto não conseguiu compreender um dos princípios básicos, o livre arbítrio, que consiste na existência de duas opções, o céu e o inferno, só vai para o inferno quem decidiu viver nas trevas durante a vida terrena e vai para o céu quem aceitou a luz de Jesus. Deus não obriga ninguém a passar a eternidade junto a Ele, portanto, depois da nossa morte a nossa decisão é respeitada. É imprescindível ressaltar que essas escolhas são feitas no dia a dia, especialmente, com ações. Ademais, a salvação é individual não dependendo do perdão dos outros cristãos e sim do arrependimento de todos pecados mortais cometidos. Porém essa ideia é “compreensível” pelo fato dele estar se baseando na ideia de que os cristãos criaram uma concepção de Deus e mataram-na (“Deus está morto”), e não está se baseando efetivamente na doutrina cristã. Portanto, pode-se inferir que Nietzsche quer fazer a transvaloração da cultura ocidental, derrubando as três bases que a constitui: fé cristã, direto romano e parte da filosofia grega.
Comumente, há uma compreensão equivocada, por inúmeros indivíduos, que existe um antagonismo entre o prazer (estando mais atrelado ao materialismo) e o cristianismo (com ideias semelhantes a alguns aspectos do idealismo), como se os sentidos fossem demonizados e os cristãos fossem privados dos prazeres. Contudo, é necessário salientar que é tido como pecaminoso certas condutas e determinados prazeres que não ocorrem nas circunstâncias adequadas, como o prazer sexual fora do casamento. Além disso, até mesmo pela própria lógica cristã não faria sentido essa percepção supracitada, pois Deus não criaria algo apenas para proibir. Sendo assim, para Nietzsche a nossa humanidade se preocupou mais com os conceitos apolíneos do que dionisíacos, nos levando ao caos, ou seja, a ordem propiciada pelo cristianismo é na realidade o caminho para perdermos a nossa humanidade.

Portanto, é notório o antagonismo do materialismo e idealismo, visto que enquanto o materialismo procura explicar todos os fenômenos através do que pode ser visto, ou sentido, como o vento. Sendo assim, está diretamente atrelado à matéria, átomos, e não se acredita em nada abstrato, como espíritos. Em contrapartida, o idealismo crê que nada acontece em vão e tudo tem como origem algo maior, e tudo ocorre para que essa coisa maior prevaleça.
Referências
https://www.marxists.org/portugues/tematica/1922/materia/cap04.htm
https://fernandonogueiracosta.wordpress.com/2014/07/12/idealismo-x-materialismo/