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Materialismo vs idealismo

O que Hegel buscou com o desenvolvimento de sua filosofia foi tentar explicar o mundo. Ele irá encontrar na Razão o elemento que o faria chegar ao entendimento do mundo. Daí afirmar que a Razão se explica a si própria, como também afirmar que a Razão é quem dirige a história. Para isso escreveu a Ciência da Lógica para poder traçar o corpo de categorias que, numa relação de movimento, caracterizariam a dialética. 

A dialética hegeliana se compõe de várias unidades, das quais Hegel enumera três: tese, antítese e síntese. A tese poder ser entendida como o momento da afirmação; a antítese é o momento da negação da afirmação, gerando a tensão que origina a síntese, o último momento que corresponde à negação da negação, ou seja, é o resultado da antítese anterior, no qual suspende a oposição entre a tese e a antítese. A síntese representa uma nova realidade marcada pela aparição da Razão Absoluta, da consciência de si, ou, o que dá no mesmo, da autoconsciência. A dialética é o movimento contraditório dentro de unidades que a cada nova etapa nega e supera a etapa anterior, num fluxo contínuo de superação-renovação (NÓBREGA, 2005).                                                                                                                                               

​Explicitando de forma mais detalhada esse movimento de passagem do Espírito Abstrato ao Espírito Absoluto, Hegel utiliza as seguintes categorias: o ser-em-si, o ser-aí, o ser-para-si e o ser-em-si-para-si. Na realidade, dentro das três unidades acima descritas operam quatro momentos. A diferença que há nesses quatro momentos é que do momento inicial para o segundo momento, ou seja, na passagem do ser-em-si (que corresponde à afirmação) para o ser-aí (corresponde à antítese, a segunda etapa) opera-se a primeira negatividade, caracterizada pela imediatez do ser mediatizada pela reflexão. Na passagem do ser-aí para o ser-para-si(corresponde ao segundo momento da antítese) opera-se a segunda negatividade, onde não apenas o ser-para-si diferencia-se do sem-em-si, mas, o supera, se separa e se isola, para além da imediatez do ser-ai anterior.

O momento do ser-para-si é o que há de novo, é fase crucial, é o momento de invenção da dialética hegeliana, pois é a partir desse momento que o ser se torna pessoa, ser livre, é a etapa de maior grau de subjetividade. Essa passagem que Hegel caracteriza como mediação ele a denomina de essência. É nesse sentido que ele se torna livre, segundo Hegel. A idéia de liberdade surge da operação dessa passagem que é marcada pela interferência do movimento dialético, o que no momento anterior não havia, pois na primeira negatividade houve uma passagem imediata, ainda presa ao momento inicial marcado pela ingenuidade, inconsciência no domínio da Razão. 

​A dialética é também um processo de concretização. O momento inicial da tríade é de abstração, por ser mais amplo, pois engloba as três etapas em seus movimentos contínuos e opostos. O momento final do processo que resulta na síntese é o menos amplo, é a fase final do primeiro ciclo dialético que eliminou as demais. Daí que, o que é importante, o movimento dialético representa o processo que vai do abstrato até o concreto. 

​A categoria mais abstrata que, segundo Hegel, se encaixa na tese é o ser, ser puro, livre de seus atributos. Seria a categoria mais abstratamente universal. A antítese do ser seria o não-ser, ou seja, o nada. Este é o elemento mediador, a negação da negação. E na síntese, como mesclagem dessas duas, teríamos o devir ou devenir. A idéia é percorrer o transcurso que levaria do Espírito Abstrato até o Espírito Concreto, através do elemento de mediação que Hegel chama de essência ou a negação da negação. Hegel trata na sua lógica Idéia, Razão e Espírito como sinônimos.

O materialismo de Marx sai das entranhas do materialismo de Feuerbach, mas com uma nova roupagem, pelo seu caráter histórico-concreto. Enquanto Feuerbach observa no materialismo o caráter natural, Marx dará ao seu materialismo um caráter histórico. Na medida em que o materialismo de Marx tem por fundamento a história, ele assume o caráter sócio-histórico, desenvolvendo seu pensamento no âmbito da teoria social. Portanto, o materialismo histórico-dialético de Marx tem uma base material, centrada no binômio forçasprodutivas-relações de produção, que desenvolveremos mais adiante. Marx sai do campo da filosofia para o campo da teoria social.

Nas onze teses de Marx sobre Feuerbachestão as bases de sustentação do materialismo de Marx. Na primeira tese Marx afirma que o principal defeito de todo o materialismo, incluindo o de Feuerbach, é que a realidade, o mundo sensível só são apreendidos sob a forma de objeto ou intuição, mas não como atividade humana sensível, enquanto práxis. Na mesma tese adianta Marx que Feuerbach acata objetos sensíveis distintos dos objetos do pensamento de Hegel, mas não considera a própria atividade humana como atividade objetiva (MARX, 1845-46, p. 99).

Na sexta tese diz Marx que Feuerbach teve o mérito de transpor a essência religiosa para a essência humana, mas que a essência humana não pode ser algo em abstrato, inerente ao indivíduo isolado, sendo, em realidade, o conjunto das relações sociais. Esse último aspecto – o conjunto das relações sociais – é um dos aspectos de maior importância da teoria social de Marx. Acrescenta Marx na sétima tese que o indivíduo abstrato que Feuerbach analisa é ele, na realidade, uma forma social determinada (idem, p. 102). 

Deduz-se que o sujeito em Hegel é produto da Razão. Em Marx, o sujeito é fruto das condições materiais através das quais eles se reproduzem, ou seja, o conjunto das relações sociais de produção e das forças produtivas. Em síntese, Hegel faz da consciência o sujeito e do ser o objeto, enquanto Marx faz do ser o próprio sujeito em sua atividade prática e da consciência o objeto apreendido pelo ser em sua realidade objetiva, material. Assim, conforme as visões de Hegel e Marx acerca da determinação do sujeito e do objeto, vamos ter caminhos diferenciados quando entendidas tais categorias à luz da questão da universalidade no âmbito da relação entre sociedade civil e Estado

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