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Resposta a carta de Epicuro.

Por José Arthur

Bem-aventurado seja, meu amigo Epicuro. Agradeço pela carta e deixo de antemão que ela me foi útil. Me ajudou a refletir e dialogar em meu interior sobre a verdade do indivíduo. Deixo minhas impressões sobre suas verdades:

Para começar deixarei claro alguns conceitos o quais utilizei para o meu pensamento: a não existência de uma verdade absoluta, pois não há quem confirme os fatos. E a existência de uma verdade individual, baseada na vivência do indivíduo e a forma com que o mesmo busca sua felicidade.

A partir disso, se confere o entendimento de que sábio é o homem que não nega suas verdades. Não há como dizer que um homem é tolo somente por conta de suas convicções, quando nem mesmo dentro das leis dos homens há uma verdade absoluta. Confere a existência de advogados, cuja única função é encontrar falhas nas leis, muitas vezes seguidas de sucesso. No entanto, apesar de não existir verdade absoluta existe o erro que, de acordo com minhas convicções, se encontra no individuo em que seus prazeres estão no desprazer de um igual. Este sim é um homem tolo. Aquele que, com sua ideologia, interrompe o equilíbrio da sociedade.

Baseado nisso, considero as divindades fruto da verdade de cada ser. Cada indivíduo tem suas experiências em vida que o levarão para o caminho de uma crença. Assim, não tem como dizer que indivíduos com crenças monoteístas, politeístas e até mesmo livres de deuses, levam sua vida de forma errônea, se os mesmos seguem suas convicções sem ferir a verdade e a vida alheia, conferindo assim ao equilíbrio da sociedade. Há quem diga que este estado é impossível de ser atingido com seres em um mesmo ambiente e diferentes crenças. No entanto, existe esta possibilidade quando o sábio tem a consciência da existência das verdades alheias e as respeita pelo fato de não existir uma verdade absoluta.

Concordo com seu ponto de vista ao dizer que o medo do fim limita a estrada, no entanto não posso afirmar que este é o maior motivo da infelicidade do homem. Pois, conheço homens que, mesmo temente a deuses, nunca deixaram de seguir seus ideais. Visto que, eles são os mesmos dos deuses o qual segue (Não são os deuses que determinam a verdade do homem, e sim sua verdade que determina os seus deuses). Desta forma, mesmo que temendo o fim, nunca deixaram de seguir suas convicções, assim aproveitando a sua vida. Cada ser possui seus próprios demônios, mesmo que livre de crenças. Até mesmo você, Epicuro, possui aspectos que limitam sua verdade, e apenas sua pessoa pode dizer quais são e conviver com eles.

O considero um homem sábio, por entender suas verdades e o ver segui-las com veemência. No entanto, poderia muito bem um terceiro ler nossas cartas e considerar-nos tolos por conta de nossos princípios. E se o mesmo não interferisse de alguma forma em nossas verdades, ele não estaria errado, tampouco nós estamos. Lembre-se, todo dia um tolo e um sábio se encontram e julgam um ao outro, e cada indivíduo tem a sua própria leitura de quem é o tolo e o sábio da história.

Diante disso, cada homem tem o livre direito de determinar como vive sua vida, e nós até podemos julgá-la, mas nuca interferir. Pois aspectos que para nós são de vital importância, como a filosofia, pode pouco importar a um terceiro. E se o mesmo segue suas convicções e é feliz, por que deveríamos dizer a ele como viver? Se o mesmo não interfere nas verdades e nem nas vidas de seus iguais, é livre para viver em sua ignorância.

 Dentro de nossa sociedade, pessoas com ideais semelhantes formam grupos e consideram tolos todos os que compartilhem de ideias divergentes a sua, pouco sendo a existência do diálogo. Que fique bem claro, dialogo não é tentar convencer o outro que é superior à ele, e sim entender como o pensamento de um diferente indivíduo funcionam, para quem sabe, agregar novos valores. Vale ressaltar, que este ato não é a mesma coisa que negar sua verdade, pois todos sofremos transformações em nossas vidas

Por fim, de nada vale se sentir superior aos outros. Pois, como foi dito anteriormente, não existe uma verdade absoluta e é sempre possível aprender em um diálogo.

 A forma de viver apresentada em sua carta, Epicuro, é a forma condizente com sua verdade. Ou seja, de acordo com suas experiências vividas, você determinou o que seria uma vida perfeita. Mas isto não significa que este modelo, de fato, é perfeito. Pois, existem pessoas com diferentes vivências e, consequentemente, diferentes interpretações acerca da vida.

Referências

EPICURO. Carta sobre a felicidade – A Meneceu. São Paulo: Unesp,2002.

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